Páginas

domingo, 28 de abril de 2013

As águas do (a)mar


       Algo me impede de olhar pra trás. De te ver novamente. De repensar os nossos atos, de relembrar os nossos momentos, de sentir a tua falta. Falta do teu sorriso. Do teu perfume. De você. Eu sei que não deveria andar com o passado, mas ele é um amigo tão bom e me entende tão bem... E você sabe que eu gosto de errar. Eu me apego aos meus erros, e você sabe muito bem disso. Afinal, não me apeguei a você?            
       As águas te levaram e eu me joguei do barco, na esperança de cair nos teus braços. Mas o mar é cruel. O mar engana. Assim como você. E eu me afoguei.


sábado, 20 de abril de 2013

Estamos parados na esquina do passado


       Não pretendia voltar atrás, porque admitir o erro cometido doía mais do que a falta que ele fazia em sua vida. Eram ambos orgulhosos, orgulhosos demais agora para verem que antes haviam sido jovens demais, e que os erros não eram erros. Não se permitiam pensar naqueles momentos agridoces que compartilharam, mas mesmo assim era a eles que recorriam quando precisavam de conforto.
       Não podia voltar atrás, estava presa ao passado. Às velhas fotografias em preto e branco, ao som da gargalhada dele, ao cheiro do pão quentinho, a alguma velha música que agora trazia nostalgia e que eles escutavam tanto naqueles dias. Não podia voltar atrás, mas dizer que queria seria eufemismo.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Batalhas perdidas

       

       Algumas feridas ainda estão por demais abertas para serem analisadas. O cheiro da carne pútrida ainda contamina o meu olfato e aperta a minha garganta, a sensação de engasgo trazendo lágrimas aos meus olhos. O sangue ainda está secando, naquela cor encarnada escura que eu tantas vezes admirei em bandeiras e estandartes de guerras, observando e rezando por jovens tão inocentes quanto eu era, que não tiveram sua alma apodrecida pelo tempo, pois este não viera. O destino chegou antes, encontrado-os espalhados em campos estrangeiros, uma pilha de corpos disformes e ensanguentados, a grama outrora verde manchada com o vinho carnal. Os inocentes pagam pelos erros dos culpados, e séculos após o primeiro erro ainda estou ajoelhada tentando me redimir pelos pecados que não compreendo na esperança de alcançar algo tão idôneo quanto o amanhã. Nada apaga o passado que rasteja atrás de mim, segurando meus calcanhares e ameaçando me puxar para o quinto dos infernos, de onde certamente veio para me assombrar. Mas como disse, admiro os herois do passado, aqueles que morreram na esperança de serem alguém, com sonhos infantis como suas feições e desejos irreais. As estrelas provavelmente eram desenhos em seus mapas mentais, e seus olhos possivelmente as percorreram uma última vez antes de serem levados ao Deus-dará. Pelo menos é assim que eu imagino. É assim como me sinto. E quando o sol pinta o manto azul claro com seus pinceis dourados, tingindo-o de laranja, eu espero até tornar-se um cobertor espesso, azul quase negro, que me conforta e me sufoca, me mata e me consola, me afoga e me aquece, me promete um novo amanhã do qual desconfio, pois todos sabem que a noite mente.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

"Castração" ou simplesmente "Minha Palavra Final"

     
     
       Após tantos anos e ao mesmo tempo tão poucos segundos, gostaria de finalmente me posicionar quanto aos "comentários castradores" que recebi (recebo) na minha vida. Primeiro, vamos deixar claro uma coisa: não sou ouvidoria pra ficar recebendo sugestões e críticas quando bem aprouver ao reclamante, ainda mais que muitas delas só são ditas - e não pensadas - no calor do momento e sem um mínimo de tato. Se houver algo em mim que te incomoda, sugiro que suma da minha vida e nunca volte, como muitos já fizeram. Ou se porventura, minha amizade ou a minha pessoa tem um mínimo de significado para você, e minha característica "irritante" for apenas um defeito (e todos os temos), tenho certeza que serás capaz de superá-lo. Se for algo que me sirva para um crescimento espiritual, sei que saberás colocar o assunto na mesa sem precisar quebrá-la ou agredi-la, afinal: mesas são caras. Amizades também.
       A segunda coisa que devo falar é que a vida é minha, a personalidade é minha, e se for pra eu morrer completamente sozinha em um beco escuro de uma favela será por culpa minha e absolutamente minha, pois por incrível que pareça eu tenho uma família que sempre está ao meu lado e amigos, amigos verdadeiros que me suportam apesar da TPM que aparentemente aparece antes, durante e depois do ciclo menstrual e que me amam do jeito que eu sou. Não, não é impossível me amar.
       Terceiro ponto: o país é livre e com a exceção de Cuba e alguns outros Estados infelizes, a liberdade de expressão e pensamento existe e justo eu, partidária fiel deste lema etéreo e irreal, não poderia deixar de usufruí-lo. Aqui, devo ressaltar um ditado popular que me é extremamente querido: "Os incomodados que se mudem".
       Quarto ponto: tudo passa e a vida passa mais rápido que todo o resto. Não quero que a minha vida acabe e eu me arrependa, perto do fim, de não ter feito o que não fiz. Isso aprendi no quarto ano do Ensino Fundamental e é algo que pretendo manter em prática.
       Quinto e último ponto: obrigada pelos "comentários castradores". Mesmo. Sério mesmo. Muito obrigada. Não seria quem eu sou hoje se não os tivesse recebido e mesmo os atuais farão com que eu cresça e aprenda muito mais do que eu sabia ontem, mesmo que seja que algumas pessoas simplesmente não valem o nosso tempo, o nosso carinho, a nossa paciência, o nosso olhar e muitas vezes o ar que respiram. Então obrigada por terem me tornado quem eu sou, e obrigada por me tornarem quem eu serei.

A LOUCA

P.S.: Sabe por que não me incomodo? Não tenho o que ser castrado. ;)