Neste
exato momento em que escrevo, as lágrimas caem dos meus olhos como gotas de
chuva escorrem em uma janela, e eu tremo com os soluços que já não consigo
controlar. Conhecimento mata. Mata sim. E eu sou a prova disso.
Porque
até aproximadamente duas horas atrás eu estava bem. Sorrindo. Feliz. Sabia que
o mal existia, é claro, mas não esperava que ele vivesse tão próximo ou que ele
fosse tão poderoso e assustador. Eu era uma observadora passiva de um quadro
pintado por outro artista, já manchado pelo tempo. Mas não hoje. Não mais.
Não que
agora eu seja a artista. Vivemos em um período sem maiores perigos, e mesmo que
não fosse assim, quem sou eu para ser alguém? Tenho 14 anos. Sou uma menina.
Choro fácil. Apego-me fácil. Machuco-me fácil. Não apresento resistência nem
esperança pra ninguém.
Mas sou
um ser humano. E como ser humano, além de ter capacidade de abstração, também
sou capaz de ficar emocionada. De sentir empatia. E é isso que eu sinto. É isso
que me faz chorar agora, como não o fazia desde a morte do meu avô.
O
motivo? 11 de setembro. Não, não a famigerada terça feira de 2001. Refiro-me a
uma que ocorreu 28 anos antes, no Chile. Talvez você nunca tenha ouvido falar
do que aconteceu. Até pouquíssimo tempo, nem eu sabia.
Talvez
seja hipocrisia minha. Não chorei (tanto assim) ao saber da Segunda Grande
Guerra nem da Primeira. A ditadura militar me irritou mais do que me chateou.
Mas o que aconteceu nesse país estrangeiro a tão pouco tempo, paralelamente ao
nosso próprio sofrimento também influenciado pelos Estados Unidos (embora em
uma escala muitíssimo menor) levou-me ao estado de bebê novamente, em posição
fetal aos prantos, sendo consolada pela minha mãe.
Somos todos seres humanos. Mas o
que leva um de nós a exterminar (ou quase isso) sua própria raça? Inteligentes?
Animais inteligentes? Só se for piada. Mais do que lágrimas e soluços de
tristeza, eu sinto uma reviravolta no meu estômago que quase me faz vomitar.
Nojo. Essa é a principal emoção em mim.
Sinto frio
e medo. Não pelo passado, já que não podemos mudá-lo, mas pelo futuro. Sinto-me
impotente. Assustada. Uma garotinha encolhida que precisa desesperadamente do
consolo dos pais. Eu não sabia que era assim. Eu não esperava que fosse assim.
Eu não quero que seja assim.
Mas a
vida engana.
E a
morte seduz.