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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Fears


I hid away
my true face
and decided I had
to meet fate
'cause somewhere along the way
I knew I would be forgotten.

sábado, 19 de outubro de 2013

Perdoe-me se não consigo seguir seus padrões de "normalidade"...


   ... Mas a verdade é que eu gosto de acordar de manhã já cantando a plenos pulmões músicas da minha velha infância. Eu gosto de tomar banho de água fria, de tomar leite com nescau e do cheiro de café que parece ter penetrado nas paredes da cozinha. Eu gosto do cheiro do meu perfume, o mesmo que minha mãe costumava passar em mim quando eu não era nada mais que um bebê. Gosto de falar muito alto, de chamar muita atenção. Gosto de sussurrar, de desaparecer, de observar tudo de uma distância segura e fingir que não estou ali. Depende do meu humor no dia.
       Gosto de imaginar como seria a vida se eu nunca tivesse nascido, gosto de imaginar como seria a vida se eu morresse agora. Gosto de tirar o juízo dos meus amigos, de perguntar tudo o que vem à cabeça aos meus professores. Gosto da comida da cantina. Gosto de reclamar. Gosto de escrever poemas. Gosto de pintar - mesmo que seja horrível nisso. Gosto de correr feito uma louca. Gosto de dançar. Gosto de abraços, ah! Como gosto de abraços.
       Gosto de ser a mesma pessoa desde sempre, o mesmo bebê risonho de quatro anos, a mesma criança tagarela de sete, a mesma sabe-tudo de dez, a mesma inocentemente rebelde de quinze. Sou fiel ao meu passado, e sempre olho pra trás na esperança que o meu próximo passo seja motivo de orgulho da minha "eu" de oito anos. Aquela que se agarrou ao carrossel do Horácio e chorou porque nunca queria crescer. Eu ainda sou aquela garota, aquela garota ainda sou eu. E você? Seu eu de oito anos se orgulharia de você? Que tal se preocupar mais com ele do que comigo? Muito obrigada e passar bem.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Dori me.

     
       Eu deveria ter sido o suficiente, e todas as comparações deveriam ter se perdido em algum caminho entre a mente e a boca. Eu deveria ter sido o suficiente, e as sombras de quem está na minha frente não deveriam ter me assombrado, o peso de quem está acima de mim não deveria ter me machucado e as farpas de quem fica atrás não deveriam ter me perfurado. Eu deveria ter sido o suficiente, e tudo o que fiz até quando o fiz deveria ter sido levado em conta, e não o que não pude ou deixei de fazer.
       Eu deveria ser o suficiente, e a dor de ser sempre a segunda, ou a terceira, ou a sétima escolha deveria me ser desconhecida. Eu deveria ser o suficiente, e meus músculos, minha mente, meu coração não deveria doer tanto devido a tantas tentativas de superar ao outros ou ao que os outros esperavam de mim. Eu deveria ser o suficiente, e as palavras que falei e as ações que realizei nunca deveriam ter sido questionadas, como se eu não fosse confiável o bastante para que elas bastassem por si só.
       Eu nunca fui o suficiente, mesmo quando tentei ser aquilo que me pediram, mesmo quando me machucava fazendo algo pelos outros, mesmo quando eu fazia tudo que poderia ter feito. Eu nunca fui o suficiente, e por mais que eu tente, todos parecem saber ou perceber isso. Eu nunca fui o suficiente, nem nunca, nunca serei.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Partidas e os que são deixados para trás (parte II)


       E apesar de todas as pistas, todos os pequenos "adeus" que ela dava todos os dias, todos os gestos que provavam que há muito ela já não nos pertencia, eu não consegui deixar de me sentir traído ao acordar um dia e não encontrá-la ao meu lado. Nenhum bilhete. Nenhum adeus. Nenhum nada.
       Eu já deveria saber, é claro. Eu deveria ter previsto. Mas eles dizem que o amor é cego, e aparentemente eu também sou. Não me toquei quando acordei naquele dia e você já estava acordada, olhando fixamente para o horizonte. Não me toquei quando você preparou café preto forte e colocou em uma jarra perto da janela. Não me toquei quando você sussurrou "Adeus" antes de adormecer na noite anterior, e por isso eu me chuto mentalmente e me desespero, enrolado nos lençóis que antes cobriram o seu corpo.
       O desespero me consome, enquanto o seu cheiro me sufoca lentamente, e deixo-me afundar cada vez mais na cama. Eu poderia ter te parado. Eu poderia ainda te ter.
       Fui abandonado.
      Mas não estou sozinho.
       A solidão entrou pela mesma porta que você saiu.


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Os créditos sempre rolam quando o filme chega ao final.

     
O caso era sério.
Era o cansaço, a tristeza que batia no fim de semana.
O passado que voltava à noite.
Os fantasmas, os zumbis das pessoas amadas.

Ela fingiu não mais amar.
Ela fingiu não se importar.
Ela fingiu e fugiu.

Já não era mais a mesma.
O abandono, o descaso, tudo e todos a consumiram e deixaram o ossos para o acaso.
Cansaço.
Passado.
Aquele que não sumia, apesar de todas suas tentativas.

Por fim,
o fim.
Daqueles que sucedem um filme ruim
(muito ruim)
como sua vida não podia deixar de ser.

Afinal,
a estrela era ela.
E brilho,
nem mesmo no olhar.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Ofélia


E se eu realmente tivesse que morrer hoje,
antes das rugas,
dos cabelos brancos,
das velas de aniversário.
E se eu tivesse que morrer hoje,
antes do amor,
dos filhos,
dos netos.
E se eu morresse hoje,
antes do diploma,
das contas,
da casa.
E se eu morresse
se, e apenas se eu morresse
quando meu corpo não mais reagisse
minhas lágrimas não mais caíssem
meus sorrisos não mais se abrissem.
Se morressem...
Ah!
Se morressem
aqueles que morrem
Mas não!
Não morrem
Ao contrário, de fato.
Assombram e arrancam pedaços
daquilo que chamamos coração
E por isso a morte dói
Assusta
Entristece
Mas quando eu morrer...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Partidas e o que as motivam.


       E parto agora da minha pátria amada, meu berço gentil, meu pátio amado. Não saio feliz, não saio de coração leve. Ao contrário. Ele se encontra mais pesado que minha consciência, se é que isso é possível.
       Mas não consigo lidar com a minha bagunça, da mesma forma que não consigo domar os meus cabelos revoltados pela manhã. Não consigo olhar para os meus erros, mesmo que eles há muito não passem de rasuras em páginas passadas no caderno da minha vida. Não consigo enfrentar os meus fantasmas, mesmo que eles não existam. Não consigo olhar nos olhos das minhas vítimas, mesmo que elas não se sintam vitimadas.
       Mas parto. E não há nada que alguém possa impedir.
       Minha alma já não mais está aqui.

domingo, 28 de abril de 2013

As águas do (a)mar


       Algo me impede de olhar pra trás. De te ver novamente. De repensar os nossos atos, de relembrar os nossos momentos, de sentir a tua falta. Falta do teu sorriso. Do teu perfume. De você. Eu sei que não deveria andar com o passado, mas ele é um amigo tão bom e me entende tão bem... E você sabe que eu gosto de errar. Eu me apego aos meus erros, e você sabe muito bem disso. Afinal, não me apeguei a você?            
       As águas te levaram e eu me joguei do barco, na esperança de cair nos teus braços. Mas o mar é cruel. O mar engana. Assim como você. E eu me afoguei.


sábado, 20 de abril de 2013

Estamos parados na esquina do passado


       Não pretendia voltar atrás, porque admitir o erro cometido doía mais do que a falta que ele fazia em sua vida. Eram ambos orgulhosos, orgulhosos demais agora para verem que antes haviam sido jovens demais, e que os erros não eram erros. Não se permitiam pensar naqueles momentos agridoces que compartilharam, mas mesmo assim era a eles que recorriam quando precisavam de conforto.
       Não podia voltar atrás, estava presa ao passado. Às velhas fotografias em preto e branco, ao som da gargalhada dele, ao cheiro do pão quentinho, a alguma velha música que agora trazia nostalgia e que eles escutavam tanto naqueles dias. Não podia voltar atrás, mas dizer que queria seria eufemismo.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Batalhas perdidas

       

       Algumas feridas ainda estão por demais abertas para serem analisadas. O cheiro da carne pútrida ainda contamina o meu olfato e aperta a minha garganta, a sensação de engasgo trazendo lágrimas aos meus olhos. O sangue ainda está secando, naquela cor encarnada escura que eu tantas vezes admirei em bandeiras e estandartes de guerras, observando e rezando por jovens tão inocentes quanto eu era, que não tiveram sua alma apodrecida pelo tempo, pois este não viera. O destino chegou antes, encontrado-os espalhados em campos estrangeiros, uma pilha de corpos disformes e ensanguentados, a grama outrora verde manchada com o vinho carnal. Os inocentes pagam pelos erros dos culpados, e séculos após o primeiro erro ainda estou ajoelhada tentando me redimir pelos pecados que não compreendo na esperança de alcançar algo tão idôneo quanto o amanhã. Nada apaga o passado que rasteja atrás de mim, segurando meus calcanhares e ameaçando me puxar para o quinto dos infernos, de onde certamente veio para me assombrar. Mas como disse, admiro os herois do passado, aqueles que morreram na esperança de serem alguém, com sonhos infantis como suas feições e desejos irreais. As estrelas provavelmente eram desenhos em seus mapas mentais, e seus olhos possivelmente as percorreram uma última vez antes de serem levados ao Deus-dará. Pelo menos é assim que eu imagino. É assim como me sinto. E quando o sol pinta o manto azul claro com seus pinceis dourados, tingindo-o de laranja, eu espero até tornar-se um cobertor espesso, azul quase negro, que me conforta e me sufoca, me mata e me consola, me afoga e me aquece, me promete um novo amanhã do qual desconfio, pois todos sabem que a noite mente.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

"Castração" ou simplesmente "Minha Palavra Final"

     
     
       Após tantos anos e ao mesmo tempo tão poucos segundos, gostaria de finalmente me posicionar quanto aos "comentários castradores" que recebi (recebo) na minha vida. Primeiro, vamos deixar claro uma coisa: não sou ouvidoria pra ficar recebendo sugestões e críticas quando bem aprouver ao reclamante, ainda mais que muitas delas só são ditas - e não pensadas - no calor do momento e sem um mínimo de tato. Se houver algo em mim que te incomoda, sugiro que suma da minha vida e nunca volte, como muitos já fizeram. Ou se porventura, minha amizade ou a minha pessoa tem um mínimo de significado para você, e minha característica "irritante" for apenas um defeito (e todos os temos), tenho certeza que serás capaz de superá-lo. Se for algo que me sirva para um crescimento espiritual, sei que saberás colocar o assunto na mesa sem precisar quebrá-la ou agredi-la, afinal: mesas são caras. Amizades também.
       A segunda coisa que devo falar é que a vida é minha, a personalidade é minha, e se for pra eu morrer completamente sozinha em um beco escuro de uma favela será por culpa minha e absolutamente minha, pois por incrível que pareça eu tenho uma família que sempre está ao meu lado e amigos, amigos verdadeiros que me suportam apesar da TPM que aparentemente aparece antes, durante e depois do ciclo menstrual e que me amam do jeito que eu sou. Não, não é impossível me amar.
       Terceiro ponto: o país é livre e com a exceção de Cuba e alguns outros Estados infelizes, a liberdade de expressão e pensamento existe e justo eu, partidária fiel deste lema etéreo e irreal, não poderia deixar de usufruí-lo. Aqui, devo ressaltar um ditado popular que me é extremamente querido: "Os incomodados que se mudem".
       Quarto ponto: tudo passa e a vida passa mais rápido que todo o resto. Não quero que a minha vida acabe e eu me arrependa, perto do fim, de não ter feito o que não fiz. Isso aprendi no quarto ano do Ensino Fundamental e é algo que pretendo manter em prática.
       Quinto e último ponto: obrigada pelos "comentários castradores". Mesmo. Sério mesmo. Muito obrigada. Não seria quem eu sou hoje se não os tivesse recebido e mesmo os atuais farão com que eu cresça e aprenda muito mais do que eu sabia ontem, mesmo que seja que algumas pessoas simplesmente não valem o nosso tempo, o nosso carinho, a nossa paciência, o nosso olhar e muitas vezes o ar que respiram. Então obrigada por terem me tornado quem eu sou, e obrigada por me tornarem quem eu serei.

A LOUCA

P.S.: Sabe por que não me incomodo? Não tenho o que ser castrado. ;)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Let it be


     Deixe ser. Deixe-ser o amanhecer, que sempre aconteceu antes e acontecerá mesmo depois de você. Deixe ser. Deixe ser e cresça, aprenda, viva. Deixe ser. É a única opção, na verdade. Por mais difícil que seja admitir. E é difícil. Extremamente. Porque é muito mais fácil controlar (os colonizadores que o digam). É muito mais fácil mentir e omitir. É muito mais fácil fingir. 
       Tudo é mais fácil do que verdadeiramente viver. E não faz mal.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Liberdade


       O que eu quero é liberdade. Mas não essa coisa comercial e pré-pronta que você me apresenta, dia após dia, de mão beijada. Eu quero liberdade. A verdadeira. Aquela que Mandela quis antes de mim. Aquela que foi tirada de Galilei. Aquela que Lispector não sabia descrever.
       Porque é tudo muito simples, é tudo muito fácil. Você chega, faz cafuné, e em dois segundos o que era presente vira passado e eu não sei mais onde nós estamos. Não sei se já estávamos aqui e eu apenas ignorei. Obviamente, essa é a opção mais óbvia.
      Mas ao mesmo tempo, estou assustada. E não sei se meu medo é reflexo da nossa relação (se a culpa é sua) ou se é normal (se a culpa não é de ninguém), porque ambos sabemos que eu não tenho culpa em nada.
       A escolha não foi minha mesmo.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

11 de setembro e a vida



                Neste exato momento em que escrevo, as lágrimas caem dos meus olhos como gotas de chuva escorrem em uma janela, e eu tremo com os soluços que já não consigo controlar. Conhecimento mata. Mata sim. E eu sou a prova disso.
                Porque até aproximadamente duas horas atrás eu estava bem. Sorrindo. Feliz. Sabia que o mal existia, é claro, mas não esperava que ele vivesse tão próximo ou que ele fosse tão poderoso e assustador. Eu era uma observadora passiva de um quadro pintado por outro artista, já manchado pelo tempo. Mas não hoje. Não mais.
                Não que agora eu seja a artista. Vivemos em um período sem maiores perigos, e mesmo que não fosse assim, quem sou eu para ser alguém? Tenho 14 anos. Sou uma menina. Choro fácil. Apego-me fácil. Machuco-me fácil. Não apresento resistência nem esperança pra ninguém.
                Mas sou um ser humano. E como ser humano, além de ter capacidade de abstração, também sou capaz de ficar emocionada. De sentir empatia. E é isso que eu sinto. É isso que me faz chorar agora, como não o fazia desde a morte do meu avô.
                O motivo? 11 de setembro. Não, não a famigerada terça feira de 2001. Refiro-me a uma que ocorreu 28 anos antes, no Chile. Talvez você nunca tenha ouvido falar do que aconteceu. Até pouquíssimo tempo, nem eu sabia.
                Talvez seja hipocrisia minha. Não chorei (tanto assim) ao saber da Segunda Grande Guerra nem da Primeira. A ditadura militar me irritou mais do que me chateou. Mas o que aconteceu nesse país estrangeiro a tão pouco tempo, paralelamente ao nosso próprio sofrimento também influenciado pelos Estados Unidos (embora em uma escala muitíssimo menor) levou-me ao estado de bebê novamente, em posição fetal aos prantos, sendo consolada pela minha mãe.
                Não darei aula de história. (Ainda) não sou formada nessa matéria. Se te interessar saber o que aconteceu, assista a esse vídeo, a causa de toda a minha tristeza: http://www.youtube.com/watch?v=nQZ90Dz4OuM&feature=youtu.be
                Somos todos seres humanos. Mas o que leva um de nós a exterminar (ou quase isso) sua própria raça? Inteligentes? Animais inteligentes? Só se for piada. Mais do que lágrimas e soluços de tristeza, eu sinto uma reviravolta no meu estômago que quase me faz vomitar. Nojo. Essa é a principal emoção em mim.
                Sinto frio e medo. Não pelo passado, já que não podemos mudá-lo, mas pelo futuro. Sinto-me impotente. Assustada. Uma garotinha encolhida que precisa desesperadamente do consolo dos pais. Eu não sabia que era assim. Eu não esperava que fosse assim. Eu não quero que seja assim.
                Mas a vida engana.
                E a morte seduz.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Esperando


       Metade da nossa vida é perdida esperando. Esperando por pessoas, por acontecimentos, pela hora certa para ir atrás do que queremos. Esperando. Muitas vezes esperando pelo momento certo para esperar (eu sei, é confuso), mas é a vida. Não tenho como reclamar.
       E agora aqui estou. Esperando por você. Ou melhor, simplesmente esperando. Por que a verdade é, eu não tenho mais o que esperar. As cartas já estão na mesa. O jogo acabou. Mas eu continuo encarando cega o rei de espada que você descartou. E lentamente, uma lágrima cai do meu rosto. Molha a mesa de madeira e eu pisco duas vezes, focando meu olhar em um ponto além da sua face de ferro.
       Dois podem jogar esse jogo.
       Lentamente, um sorriso abre-se em meu rosto. Um sorriso inocente, mas ele te desarma. E eu rio. Levanto-me, saio. Subo as escadas e olho pra você uma última vez, de cima.
       O show deve continuar.


p.s.: se alguém conseguir descobrir as três referências musicais que eu coloquei aqui, ganha um beijo.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Machuque-me.

     
       Machuque-me. Agora. Ou depois. O tempo inteiro. Contanto que haja dor. E que esta permaneça. Machuque-me. Logo. Quanto mais cedo melhor. Por quanto tempo for possível. Machuque-me. Por favor. Quero dor. Quero dor. Quero dor.
       Aposto que é isso que você escuta quando eu falo o contrário.

domingo, 27 de janeiro de 2013

A Verdade

     
       E agora, nada mais resta entre nós se não a verdade. Sim, a verdade. Não, não adianta fugir. Já postergamos esse momento por demais. Somos grandes o suficiente agora, maduros o suficiente para sabermos que essa verdade, por mais dolorosa que seja, é necessária. Não somos mais crianças, e brincar de pique esconde de palavras só vai nos machucar ainda mais (ambos sabemos que os dias em que eu ainda podia correr sem ter uma parada respiratória já se foram).
       Crescemos. Juntos, apesar da distância. Distância essa muitas vezes mental, e imposta por você. Foi com você que eu aprendi a sensação de estar do lado de uma pessoa, tão perto que se é possível tocá-la, mas ao mesmo tempo estar tão distante que se eu mandasse uma carta, demoraria anos para chegar. Não minta. Você sabe que isso é verdade.
       E eu sempre estive do seu lado. Quando você precisou, mesmo que muitas vezes você nem soubesse que precisava. Mas nunca, nem uma vez, você esteve do meu. Todos seus sorrisos falsos, eu soube ver através de você. Quando esses mesmos sorrisos estamparam a minha cara você ou não soube ver, ou simplesmente ignorou. Apague isso. Já é tarde demais para tentar amenizar os seus erros. É tarde demais para tentar me enganar. Você me ignorou. Essa é a verdade.
       Não te odeio. Após todos esses anos, todas essas dores, não consigo me fazer te odiar. Graças a você, hoje eu sou quem eu sou. Graças a você, eu aprendi tantas lições. Graças a você.
       Esse não é um texto pra dizer "olhe, estou melhor sem você!". É um texto pra dizer "sim, estou melhor sem você. Mas você sempre soube disso".
       E, verdade seja dita...
       Não deu certo porque não era pra dar.

P.S.: Esse é o último texto que escrevo sobre você.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Despedida

       E não havia mais nada a fazer. Os dois se olharam, um com um sorriso tristonho e ela com a expressão enigmática, os olhos focados em algum ponto acima dele, evitando seu olhar.
       - Em que pensas? - Ele pergunta após um tempo, cautelosamente, com medo da resposta ou talvez de quebrar o momento. Ela não respondeu por alguns minutos, o olhar ainda perdido no espaço, a mente talvez a milhões de quilômetros dali.
       - Em você. - Respondeu por fim, fixando os olhos amendoados nos verdes dele. - Em que mais poderia pensar?
       Aquilo trouxe um sorriso bobo no rosto dele, que estendeu a mão para ela. Instintivamente, ela deu dois passos pra trás. O sorriso no rosto dele desvaneceu. Ela suspirou. Aproximou-se dele, pegando a mão que ele deixara cair.
       - Perdoe-me. - Sorriu fraco e abraçou-o, seus braços ao redor do pescoço dele, acariciando seus cabelos, sentindo seu cheiro enquanto ainda podia. - Você tem que entender o quanto isso é difícil para mim.
       Ele retribuiu o abraço, acariciando suas costas carinhosamente.
       - Acredite. Eu entendo.
       Na mesa, o café esfriava, sua fumaça se dissipando no ar de fim de tarde de Paris.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O que é felicidade?

     
       Felicidade é um conceito aberto. Mas como não posso (nem me sinto no direito de) escrever sobre o que é felicidade para outras pessoas, contento-me em tentar explicar o que é felicidade pra mim.
       Felicidade é ser capaz de amar. É sentir o seu coração batendo e saber que há um propósito por trás disso. É ver uma pessoa feliz e ser capaz de sentir a felicidade dela.
       Felicidade é ser capaz de ser amado. É então, se amar e saber que sendo você mesmo, os outros também te amarão, do jeitinho que você é.
       Felicidade é um sorriso de uma criança, uma piada sem graça que escapa dos lábios mas que te faz rir do mesmo jeito. É encontrar um amigo que não vê há muito tempo, completamente por acaso. É cheirar livros velhos e novos.
       Felicidade é tomar banho de chuva e de mar. É sentir cheiro de bolo e pão quentes. É brincar com um bebê.
       Felicidade é ter esperança. É sonhar, muitas vezes acordado. Felicidade é aquilo que nos deixa feliz, aquilo que dá sentido a nossa vida.
       Felizmente, eu sou feliz.

domingo, 6 de janeiro de 2013

A Volta dos que não Foram

     
       E há o sentimento de prisão. De querer fugir. Sair daqui, dessa pequena redoma, deste pequeno espaço no qual fomos criados. O conhecimento aprisiona, e podemos concordar que conhecemos este lugar como a palma da nossa mão.
       É pequeno demais, abafado demais. Todos se conhecem. Por uma vez, queremos algo novo. Queremos ir.
       Eventualmente, vamos. Não em fuga (pelo menos não a maioria), mas em busca do algo que faltava dentro de nós. Procuramos em cada esquina, cada rua. Procuramos no céu e na terra. Mas não há jeito, o maldito pedaço não quer aparecer. Na verdade, é como se ele tivesse se expandido, e agora não é um quarto do seu coração, é a construção inteira que falta.
       Eventualmente também, voltamos. Voltamos à Pátria Amada, ao lar. A todos aqueles clichês que antes eram sem sentido, mas que agora fazem todo o sentido do mundo. E pouco a pouco, as paredes e janelas e portas e o teto que haviam sido destruídos foram voltando aos seus lugares. Mas desta vez, com o quarto que eu não sabia que na verdade, sempre estivera lá.
       Só que eu era muito "ainda-não-eu" pra perceber.