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domingo, 27 de janeiro de 2013

A Verdade

     
       E agora, nada mais resta entre nós se não a verdade. Sim, a verdade. Não, não adianta fugir. Já postergamos esse momento por demais. Somos grandes o suficiente agora, maduros o suficiente para sabermos que essa verdade, por mais dolorosa que seja, é necessária. Não somos mais crianças, e brincar de pique esconde de palavras só vai nos machucar ainda mais (ambos sabemos que os dias em que eu ainda podia correr sem ter uma parada respiratória já se foram).
       Crescemos. Juntos, apesar da distância. Distância essa muitas vezes mental, e imposta por você. Foi com você que eu aprendi a sensação de estar do lado de uma pessoa, tão perto que se é possível tocá-la, mas ao mesmo tempo estar tão distante que se eu mandasse uma carta, demoraria anos para chegar. Não minta. Você sabe que isso é verdade.
       E eu sempre estive do seu lado. Quando você precisou, mesmo que muitas vezes você nem soubesse que precisava. Mas nunca, nem uma vez, você esteve do meu. Todos seus sorrisos falsos, eu soube ver através de você. Quando esses mesmos sorrisos estamparam a minha cara você ou não soube ver, ou simplesmente ignorou. Apague isso. Já é tarde demais para tentar amenizar os seus erros. É tarde demais para tentar me enganar. Você me ignorou. Essa é a verdade.
       Não te odeio. Após todos esses anos, todas essas dores, não consigo me fazer te odiar. Graças a você, hoje eu sou quem eu sou. Graças a você, eu aprendi tantas lições. Graças a você.
       Esse não é um texto pra dizer "olhe, estou melhor sem você!". É um texto pra dizer "sim, estou melhor sem você. Mas você sempre soube disso".
       E, verdade seja dita...
       Não deu certo porque não era pra dar.

P.S.: Esse é o último texto que escrevo sobre você.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Despedida

       E não havia mais nada a fazer. Os dois se olharam, um com um sorriso tristonho e ela com a expressão enigmática, os olhos focados em algum ponto acima dele, evitando seu olhar.
       - Em que pensas? - Ele pergunta após um tempo, cautelosamente, com medo da resposta ou talvez de quebrar o momento. Ela não respondeu por alguns minutos, o olhar ainda perdido no espaço, a mente talvez a milhões de quilômetros dali.
       - Em você. - Respondeu por fim, fixando os olhos amendoados nos verdes dele. - Em que mais poderia pensar?
       Aquilo trouxe um sorriso bobo no rosto dele, que estendeu a mão para ela. Instintivamente, ela deu dois passos pra trás. O sorriso no rosto dele desvaneceu. Ela suspirou. Aproximou-se dele, pegando a mão que ele deixara cair.
       - Perdoe-me. - Sorriu fraco e abraçou-o, seus braços ao redor do pescoço dele, acariciando seus cabelos, sentindo seu cheiro enquanto ainda podia. - Você tem que entender o quanto isso é difícil para mim.
       Ele retribuiu o abraço, acariciando suas costas carinhosamente.
       - Acredite. Eu entendo.
       Na mesa, o café esfriava, sua fumaça se dissipando no ar de fim de tarde de Paris.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O que é felicidade?

     
       Felicidade é um conceito aberto. Mas como não posso (nem me sinto no direito de) escrever sobre o que é felicidade para outras pessoas, contento-me em tentar explicar o que é felicidade pra mim.
       Felicidade é ser capaz de amar. É sentir o seu coração batendo e saber que há um propósito por trás disso. É ver uma pessoa feliz e ser capaz de sentir a felicidade dela.
       Felicidade é ser capaz de ser amado. É então, se amar e saber que sendo você mesmo, os outros também te amarão, do jeitinho que você é.
       Felicidade é um sorriso de uma criança, uma piada sem graça que escapa dos lábios mas que te faz rir do mesmo jeito. É encontrar um amigo que não vê há muito tempo, completamente por acaso. É cheirar livros velhos e novos.
       Felicidade é tomar banho de chuva e de mar. É sentir cheiro de bolo e pão quentes. É brincar com um bebê.
       Felicidade é ter esperança. É sonhar, muitas vezes acordado. Felicidade é aquilo que nos deixa feliz, aquilo que dá sentido a nossa vida.
       Felizmente, eu sou feliz.

domingo, 6 de janeiro de 2013

A Volta dos que não Foram

     
       E há o sentimento de prisão. De querer fugir. Sair daqui, dessa pequena redoma, deste pequeno espaço no qual fomos criados. O conhecimento aprisiona, e podemos concordar que conhecemos este lugar como a palma da nossa mão.
       É pequeno demais, abafado demais. Todos se conhecem. Por uma vez, queremos algo novo. Queremos ir.
       Eventualmente, vamos. Não em fuga (pelo menos não a maioria), mas em busca do algo que faltava dentro de nós. Procuramos em cada esquina, cada rua. Procuramos no céu e na terra. Mas não há jeito, o maldito pedaço não quer aparecer. Na verdade, é como se ele tivesse se expandido, e agora não é um quarto do seu coração, é a construção inteira que falta.
       Eventualmente também, voltamos. Voltamos à Pátria Amada, ao lar. A todos aqueles clichês que antes eram sem sentido, mas que agora fazem todo o sentido do mundo. E pouco a pouco, as paredes e janelas e portas e o teto que haviam sido destruídos foram voltando aos seus lugares. Mas desta vez, com o quarto que eu não sabia que na verdade, sempre estivera lá.
       Só que eu era muito "ainda-não-eu" pra perceber.