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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Eu não desistirei.


       Como poderia, quando significa tudo para mim? É a razão pela qual acordo de manhã. O motivo que faz com que eu enfrente o dia sorrindo, apesar dos pesares. É o último pensamento que ataca a minha mente antes de ceder ao sono, e mesmo neste eu ainda encontro. Até nos meus sonhos encontro.
       Então não me peçam para desistir. Porque não pretendo. Nem agora nem nunca. Desistir agora seria desistir de mim mesmo. E sabe? Eu até que me amo.

sábado, 22 de dezembro de 2012

A vida pela janela

       Eu sendo silenciosa é uma coisa assustadora. Dia desses, estava sentada no carro - que havia acabado de ser lavado - com papai, e não falava nada, apenas olhava pela janela enquanto fazíamos o percurso para casa. Em determinado momento, papai perguntou se eu estava bem, porque eu estava muito calada. Eu só balancei a cabeça e tentei explicar o que estava pensando.
       Não era tanto a paisagem que me fascinava, afinal, aquele caminho me era conhecido. Eram as janelas, os vidros limpos. Não que o carro do meu papai, vivesse sujo, claro. A verdade era a semelhança que aquela janela limpa tinha com a vida que certas pessoas levam.
       Talvez você já tenha escutado o ditado "Todas as pessoas existem, mas só algumas vivem". Para mim, aquele vidro sintetizava o que essa simples frase queria dizer. A verdade é, enquanto muitas pessoas arriscam-se a baixar os vidros e deixar o ar entrar, a chuva, os sons, a vida, muitas outras tem medo. Ou preguiça. E por isso, não vivem realmente. Suas existências se resumem a olhar pela janela, observar a vida real acontecendo, mas não tomar parte dela.
       Claro que manter o vidro fechado tem suas qualidades. Você se protege. Dos pingos molhados. Da podridão do ar. Da violência. Mas não há escolha. Você acaba por fim também se protegendo do vento nos cabelos. Dos cheiros da padaria. Dos risos no ar.
       Afinal. Você vive ou existe?

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Os Arquivos do Passado


Há confusão na floresta.
Floresta do bicho homem.
Um rastro,
Rastro de sangue,
Foi encontrado.
Não há água que lave
a mancha da grama.
Borracha que apague
a lembrança.
O burburinho começa,
Como sempre há de começar.
O povo espera.
Aguarda.
Dias.
Meses.
Anos.
O rastro hoje, já é velho.
Novidade mais não é.
Não se comenta o assunto.
A resposta traz o medo.
Medo pela própria pele.
Lembranças dos pecados
(do passado).
Mas o povo ainda espera.
E quanto mais o tempo passa,
Mais o rastro brilha,
Luminoso,
A certeza que um dia,
O nosso passado será, verdadeiramente,
nosso.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A SMOOTH SEA NEVER MADE A SKILLFULL SAILOR

      
       E com o vento batendo em seu rosto, ele respirou fundo o cheiro de água salgada que invadia seus pulmões e agradeceu a Deus a oportunidade de estar vivo. De estar ali. Era um marinheiro, para aquilo havia nascido, e ali se sentia em casa.
       Não se atreveu a expressar seus sentimentos aos companheiros. Sabia que eles gostavam do trabalho, mas no fim tudo o que queriam era voltar para suas casas e para suas famílias. Mas não havia casa nem família esperando-o quando terminassem esse trabalho. O mar era sua casa e sua família. Era tudo que ele realmente conhecia e admirava. Mulheres eram um território tenebroso, mas o mar, não. Ele o conhecia como a palma da sua mão.
        E mesmo naquele momento, em que o mar que ele tanto amava se revoltava contra ele, o marinheiro não conseguia se revoltar com o seu amor. Sabia que morreria, tinha certeza disso, mas não conseguia se importar. Se fosse para morrer, nada melhor do que morrer ali, nos braços de seu amor. Seu único, verdadeiro amor. O mar.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

LOVE IS LOUDER THEN THE PRESSURE TO BE PERFECT

     
        E ela enfim se viu sozinha. O silêncio era sepucral, e a fez sorrir. Mas quase imediatamente, o sorriso se desvaneceu. Não havia felicidade nela. Não de verdade. Os motivos que a levaram até ali não eram bons, nem alegres, nem muito menos louváveis.
       "A vida cansa" - ela pensa, enquanto procura pela sua salvação no armário do banheiro. O problema é que na cabeça dela, a vida cansava apenas a ela. Não entendia que todos tentavam sobreviver aos mesmos problemas que ela. Chame de egoísmo. Ela não se importa. Como poderia se preocupar com aqueles que não se preocupam com ela?
       A navalha em suas mãos, há um leve tremor de excitação em seus dedos. Apenas alguns segundos, apenas mais alguns segundos até que a dor desapareça. E com esse pensamento, ela vai. Perfura sua própria pele. E naquele instante, tudo desaparece. É apenas ela e a sensação de dormência. E aquela sensação era tudo o que ela queria. A distração da dor que consumia o seu interior.
       Mas, cedo demais, acabou. A sensação some, e no lugar dela a mesma dor aparece novamente, mas desta vez mais forte, como que para lembrá-la de seu poder. Ela viu vermelho. Não só o sangue, mas todo o resto. A raiva tomou-a, e ela ergueu a navalha mais uma vez, desta vez perfurando mais fundo.
       Era como um jogo. E ela só percebeu que havia perdido quando era tarde demais. E ali, deitada em sua poça de seu sangue, ela se perguntou se havia valido a pena.
       "Não."

domingo, 2 de dezembro de 2012

Felizes são aqueles que comemoram

       E os fogos de artifício estouram na noite escura. Em dias normais, você não estaria acordado a esta hora. Mas hoje não é um dia normal. É a virada do ano. E esses estouros, tão altos, que te obrigam a erguer os olhos para a imensidão negra acima, são a marca do fim de um ciclo de 365 dias. Os estouros são acompanhados de luminosos pontos, luminosos pontos que você odeia. Pra que deixar o céu mais "iluminado"? As estrelas não são o suficiente? Aparentemente, não. Por isso você fecha os olhos quando o próximo fogo estoura. Calmamente, sem aparente razão, uma lágrima escorre. E você reza para qualquer Deus disponível neste dia de festa que ninguém perceba. Mas ao seu redor, todos estão se abraçando e se beijando, comemorando o ano que chegou. E você se pega se perguntando se algum deles virá até você. Mas os minutos passam, e ninguém se aproxima. Você balança a cabeça, resoluto. Não pode esperar que eles se importem com você, se você não se importa com eles. Suspira. Balança a cabeça de novo. Por que será que pensara que hoje seria diferente? Ou melhor, ontem. Ou ontem e hoje. Mais um suspiro, e outro balançar de cabeça. A mão voa para o bolso de trás da calça, onde guardara seu precioso pacote de cigarros. Acende um, com as mãos tremendo de expectativa. Com a primeira tragada, a nicotina corre por suas veias e ele para de tremer.  Desta vez, não é  um suspiro que sai da sua boca, mas sim, a fumaça que ele solta devagar, apreciando a sensação que a droga o causa. Uma olhada rápida para os lados. Não, ninguém reparara nele. Ótimo. Ele e seu cigarro voltarão para a sua cama, da onde na verdade não deveriam ter saído. Comemorações são supérfluas. Não. Comemorações são para pessoas felizes.