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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Doceria


Incrível o quanto eu aprendi sobre a raça humana apenas sentada na mesa do fundo daquela doceria. Perdi horas e horas da minha tarde já ociosa apenas assistindo a dona Adelaide fazer seus doces e atender seus diversos clientes. Ela era com certeza uma das mulheres mais pacientes que eu já vi em minha vida, tanto para preparar seus doces quanto para atender seus clientes. Com ela, aprendi que na vida sempre vale a pena refazer seus erros, para depois ver que eles se transformaram em lindas obras de artes. E também aprendi muita coisa com os clientes. Lembro que certa tarde eu estava sentado aqui comendo um doce de framboesa delicioso, quando entrou uma madame pela porta da frente. Uma madame mesmo, com um vestido de seda pura lindíssimo, e um cachorro com coleira de cristais a tiracolo. Com ela, aprendi a que não deveria ser apressada, que o mundo não gira ao meu redor, como ela achava. Também aprendi com um senhor português que eu deveria sempre sorrir para todos, independentemente do que eu estivesse passando. Mas a lição mais importante foi, com certeza, a que eu aprendi com um meninho, com pouco mais que cinco anos. Eu estava brigando com o meu cachorro, dizendo para ele não fazer suas necessidades na rua, pois o cachorro do meu vizinho não fazia. Então ele se aproximou, com um cupcake de chocolate e m’ms na mão, olhou para mim e disse:
- Meu senhor, você consegue encontrar outro bolinho igual a esse ali?- e apontou para onde ficava expostas as comidas.
- Não, mas consigo achar parecidos.
- E por que você espera que esse cachorro seja igual ao outro? - Dito isso, deu-me as costas e foi-se embora. Depois desse dia, passei a perdoar os defeitos dos outros, pois nunca ninguém vai ser perfeito, ou igual à outra pessoa.

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