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sábado, 22 de dezembro de 2012

A vida pela janela

       Eu sendo silenciosa é uma coisa assustadora. Dia desses, estava sentada no carro - que havia acabado de ser lavado - com papai, e não falava nada, apenas olhava pela janela enquanto fazíamos o percurso para casa. Em determinado momento, papai perguntou se eu estava bem, porque eu estava muito calada. Eu só balancei a cabeça e tentei explicar o que estava pensando.
       Não era tanto a paisagem que me fascinava, afinal, aquele caminho me era conhecido. Eram as janelas, os vidros limpos. Não que o carro do meu papai, vivesse sujo, claro. A verdade era a semelhança que aquela janela limpa tinha com a vida que certas pessoas levam.
       Talvez você já tenha escutado o ditado "Todas as pessoas existem, mas só algumas vivem". Para mim, aquele vidro sintetizava o que essa simples frase queria dizer. A verdade é, enquanto muitas pessoas arriscam-se a baixar os vidros e deixar o ar entrar, a chuva, os sons, a vida, muitas outras tem medo. Ou preguiça. E por isso, não vivem realmente. Suas existências se resumem a olhar pela janela, observar a vida real acontecendo, mas não tomar parte dela.
       Claro que manter o vidro fechado tem suas qualidades. Você se protege. Dos pingos molhados. Da podridão do ar. Da violência. Mas não há escolha. Você acaba por fim também se protegendo do vento nos cabelos. Dos cheiros da padaria. Dos risos no ar.
       Afinal. Você vive ou existe?

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